segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Começando

Todos os dias, iniciamos uma sequência de atos que, pouco ou muito, deveria refletir aquilo que somos, pensamos e sentimos. Acordamos, tomamos nosso café, lemos o jornal do dia, vamos para o trabalho, enfrentamos trânsito, exercemos nosso ofício - não raro envolto em dissabores -, voltamos, vemos TV, ou vamos ao Teatro, ou ouvimos Música... nos cansamos, tomamos nosso banho e, antes que possamos nos dar conta, ufa! terminou o dia. E dormimos para, no dia seguinte, repetir tudo novamente. Essa sequência, se ocupa nossos dias, chamamos rotina, a qual, desavisadamente, chamamos vida. Cada ato humano, contudo, expressa intrinsecamente idéias e posturas, valores cuja manifestação deveria traduzir o que somos, a assunção destas mesmas posturas e idéias. Não sei dizer certamente quando me ocorreu essa conclusão, mas sei que veio espontaneamente, saltando à vista, tornando-se para mim o óbvio, palavra que, embora seja tida atualmente como sinônimo de trivial, se impôs à minha realidade com a força de seu sentido original: a força daquilo que simplesmente não pode ser ignorado.

Esse óbvio, contudo, contrastou com a realidade à minha volta, mostrando-se totalmente alheio a ela.

E foi percebendo justamente isso, que cheguei a conclusão outra, que me deixou igualmente desconcertado: Nossos atos, pensamentos e sentimentos, quase que em sua totalidade, não são nossos, ou ao menos, possuem um conteúdo que nos é absoluta e totalmente ignorado, se encontrando, via de regra, em frontal oposição às nossas convicções.

Tal foi meu desconcerto diante do aparente paradoxo, que resolvi empreender o caminho inverso:

Passei a observar o conteúdo de tudo aquilo que estava em mim, e a partir daí tentar retroceder até sua origem, onde acreditava, então, que conseguiria identificar o que é meu e o que não é. Chegar à origem de cada valor, cada pensamento, cada sentimento. Não foi difícil perceber que essa origem, esse marco zero, seriam dificílimos de encontrar. Afinal, pensamentos sempre estão agregados a outros, que por sua vez enredam outra série de imagens. E curiosamente, eles nunca param de reproduzir-se; uma idéia sempre leva a outra, e a outra... O ciclo é interminável, regredindo ou progredindo na rede do pensamento. Eis então minha terceira conclusão: Pensamento não é um movimento linear, coerente, mas complexo e abstruso. Essa minha conclusão foi confirmada quando, confidenciando ao meu Tio - grande mestre em alguns momentos - tais idéias, ele me revela: "Teo, não há começo, porque não há fim..."

Nesta época, já estava em meu último ano de faculdade, e minha Monografia se ocupou inevitavelmente de tema na área de Filosofia do Direito - disciplina que para alguns encerra um grande antagonismo, a começar do título. E isso sempre me causou estranheza. Nunca compreendi como as pessoas podiam passar suas vidas sem entender, ou simplesmente dialogar com os próprios valores. Até hoje, na verdade, me percebo em confronto direto ou indireto com este fato, sendo que somente recentemente vim a aceitar - único verbo que me restou possível - a máxima dita por Laclos há muito: "A maioria das pessoas renunciaria aos seus próprios prazeres, se estes lhe custassem a fadiga de uma reflexão"... E depois de muita briga inútil, muito esforço que, hoje sei, não me traria - como de fato não me trouxe - nenhum resultado, pelo menos não o esperado.

Não irei me estender muito no caminho que me levou até este blog, pois sua narrativa iria nos desviar da essência do que quero efetivamente registrar nesta primeira postagem, e que é simplesmente o registro de minha perplexidade, que em parte se tornou o sentido oposto de minha jornada até então:

Vivemos a esmo; não sabemos quem somos, do que somos feitos; se a humanidade é Efeito de algo, desconhecemos a Grande Causa. E, a princípio, digo isso sem qualquer conotação religiosa e/ou espiritual. Não estamos conscientes quando agimos, nem refletimos posteriormente sobre nossas ações. E quando o fazemos, nos deparamos com uma casa tão bagunçada, que raramente nos estimulamos a empreender novos esforços neste sentido, talvez por sequer saber por onde começar. Conhecer nossa miséria é experiência para alguns tão penosa, que estes acabam tornando-se vítimas de si mesmos.

Entendo que a miséria humana é real, bem como a dor que é seu inevitável consequente. Mas ela não é nossa inimiga, nem motivo para olharmos o caminho como a grande ignomínia que Deus pronuncia sobre nós. Antes e ao contrário: Ela é a grande consoladora. Correto estava o poverello quando a tudo tinha por irmão: Irmão Sol, Irmã Morte.... Irmã Dor! A dor é a grande irmã - sem qualquer referência ao Big Brother aqui, por favor!

Bom, resumindo, foi empreendendo esse caminho que acabei topando - na verdade fui muito bem encaminhado por meu saudoso pai - com a Teosofia, que, propedeuticamente, pode ser definida como Estudo de Religião Comparada - as verdadeiras religiões, as ancestrais, leia-se.

Sempre gostei de filosofia, como já deve estar se tornando nítido. A Teosofia só veio tornar mais forte essa postura questionadora da qual a Filosofia talvez seja o grande advento. E o propósito deste blog, inicialmente, é, humildemente, tornar-se o repositório das dúvidas e indagações de alguém que, após algumas vivências e vários livros que considerou bons - muito, muito bons -, considera que a Vida é Sagrada, que o Sagrado é Vivo, e preenche o espaço de cada ato; que a evolução é um resultado intrínseco a todo movimento vivo - e tudo é vivo. E que nesse sentido, descobrir-se é, no fim das contas, descobrir o Sagrado que em nós Habita, a Força que redime, a Essência Egrégia da forma.

Não acredito, contudo, no excesso de austeridade que as Religiões propagam, embora admita ser esta característica deveras útil para que muitos encontram um norte, um caminho, um regramento. Mas ela é um estágio: Cientes da Glória que é o destino de toda a vida no Universo, não podemos outra coisa fazer senão viver com extrema alegria, jubilosos em fazer parte de um Plano que a todo instante se cumpre na Perfeição que nos é anunciada, abandonando assim fardos e posturas que agora se mostram desnecessários. A Religião deve conduzir ao bem estar, à alegria, à leveza e à beleza da vida.

Neste sentido, será este blog meu espaço - e seu também, caro leitor - para, tomado por esta alegria e esta confiança da Divindade de que somos feito, tratar de todos os assuntos possíveis - do Sagrado ao profano, do luxo ao lixo - à luz da Teosofia, Filosofia, e de tantas outras ciências que estudam a alma humana - TEO E OUTRAS SOFIAS.

Bem vindo. Esse espaço é nosso. Porque o Sagrado é aqui e agora - "O Reino dos Céus está dentro do homem".



4 comentários:

Anônimo disse...

Teo, você sabe que, apesar de já termos discutido infinitas vezes sobre seus pontos de vista, concordo com "apenas" alguns deles.
Entretanto serei um assíduo leitor deste espaço, pois suas reflexões normalmente adicionam muito.
Parabéns pela iniciativa!

Anônimo disse...

Oi...o que dizer ? Que vc escreve muito bem ... escreve de uma forma clara..que existe verdade no texto.. muita verdade,mas muitas vezes dói aceita-las.

Anônimo disse...

Gostei demais, você escreve muito bem. Deduzi bem o que passamos no dia a dia sem perceber... realmente já estamos ligados no automático e muitas vezes deixamos de ver o por dentro de nós em relação a isso, dos atos, e no que realmente acreditamos e não só nos benditos costumes dessa nossa sociedade em si.
Bjs pra você.
E parabéns pelo seu blog.

Anônimo disse...

Teo, lendo atenciosamente o que de mais puro pôde extravasar da sua Alma, parei pra pensar no conceito de LIBERDADE, palavra tão mal compreendida em nosso tempo, sempre aliada e dependente da palavra "RESPONSABILIDADE" (alguns preferem dizer: dever responder por..).
A responsabilidade se tornou o nosso SUPEREGO (que se "mostra" através da internalização das proibições, dos limites e da autoridade) que tenta censurar o nosso ID que constitui o reservatório de energia psiquica,é onde se localizam as pulsões de vida e de morte,as características atribuidas ao sistema incosciente(ou não, Nem Freud explica).É regido pelo principio do prazer, mas isso seria LIBERDADE ou Livre-Arbítrio?
Eu quero ter liberdade ou Livre-Arbítrio? acho que continuarei tendo muito mais perguntas que respostas....SEMPRE!!!!

Grande beijo Teo e parabéns pelo blog, você escreve muito muito bem e tem a capacidade de provocar a reflexão em seus leitores..isso é um DOM! parabéns.